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sexta-feira, 7 de março de 2014

As três velhas

Era uma vez três irmãs, jovens todas elas: uma tinha sessenta e sete anos, a outra setenta e cinco anos e a terceira noventa e quatro. Estas raparigas tinham uma casa com um belo terraço, e este terraço no meio tinha um buraco, para se ver quem passava na rua. A de noventa e quatro ano viu passar um belo jovem. Imediatamente, pegou no seu lencinho mais fino e perfumado e quando o jovem passava por baixo do terraço deixou-o cair. O jovem apanhou o lencinho, sentiu aquele odor suave e pensou: «Deve ser uma belíssima donzela.» Deu uns passos, depois tornou atrás, e tocou à campainha daquela casa. Veio abrir uma das três irmãs, e o jovem perguntou-lhe:
-Por favor, há uma rapariga neste palácio?
-Sim, senhor, e não uma só.
-Faça-me um favor: eu gostava de ver a que perdeu este lencinho.
-Não, sabe, não é permitido – respondeu aquela. – Neste palácio é costume que enquanto uma rapariga não se casa, não se pode ver.
O jovem já estava de cabeça tão perdida imaginando a beleza desta rapariga, que disse:
-Sendo assim, basta. Desposá-la-ei mesmo sem a ver. Agora vou dizer à minha mãe que encontrei uma belíssima jovem e que quero casar-me com ela.
Foi a casa, e contou tudo à mãe, que lhe disse:
-Querido filho, tem cuidado com o que fazes, que não estejam a enganar-te. Antes de fazeres uma coisa dessas tens de pensar muito bem.
E ele:
-Sendo assim, basta. Palavra de rei não volta atrás. – Porque aquele jovem era um rei. Volta a casa da noiva, toca à campainha e entra. Vem a velha do costume e pergunta-lhe:
-Diga-me, por favor, é avó dela?
-Eh, sim, eh, sim, avó dela.
-Então se é a sua avó, faça-me este favor: mostre-me ao menos um dedo dessa rapariga.
-Po agora não. Tem de vir amanhã.
O jovem despediu-se e foi-se embora. Mas ele saiu, as velhas fabricaram um dedo falso, com um dedo de luva e uma unha postiça. Entretanto ele com o desejo de ver este dedo, não conseguiu dormir toda a noite. Veio o dia, vestiu-se, e correu à casa.
-Senhora – disse à velha -, aqui estou; vim ver o dedo da minha noiva.
-Sim, sim – disse ela - é para já, é para já. Vê-lo-á pelo buraco da fechadura desta porta.
E a noiva pôs o falso dedo pelo buraco da fechadura. O jovem viu que era um belíssimo dedo; deu-lhe um beijo e pôs-lhe um anel de diamantes. Depois, apaixonado furioso, disse à velha:
-Saiba, avozinha, que eu quero casar-me quanto antes, não posso esperar mais.
E ela:
-Já amanhã, se quiser.
-Muito bem. Caso-me amanhã, palavra de rei. – Ricos como eram, podiam mandar preparar a boda de um dia para o outro, porque não lhes faltava nada; e no dia seguinte a noiva estava a arranjar-se ajudada pelas suas irmãzinhas. Chegou o rei e disse:
-Avozinha, cá estou.
-Espere aqui um momento, que já lha levamos. – E as duas velhas vieram segurando pelos braço a terceira, coberta de sete véus.
-Recorde-se bem – disseram ao noivo – que enquanto não estiverem no quarto nupcial, não é permitido vê-la. – Foram à Igreja e casaram-se. Depois o rei quis que fossem almoçar, mas as velhas não permitiram.
-Sabe, a noiva não está habituada a estas coisas. – E o rei teve de se calar. Estava ansioso por que chegasse a noite, para ficar sozinho com a noiva. Mas as velhas acompanharam a noiva ao quarto e não o deixaram entrar porque tinham de despi-la e metê-la na cama. Por fim ele entrou, sempre com as duas velhas atrás, e a noiva estava debaixo dos cobertores. Ele despiu-se e as velhas foram-se embora levando-lhe a luz. Mas ele trouxera consigo uma vela, acendeu-a e quem se deparou à sua frente? Uma velha decrépita e toda encarquilhada.
Primeiro ficou imóvel e sem palavras com o susto, depois deu-lhe uma raiva, uma raiva tão grande que pegou na noiva com violência, levantando-a nos ares, e fazendo-a voar pela janela.
Por baixo da janela havia uma latada de vidreira. A velha furou a latada e ficou pendurada num pau por uma ponta da camisa de noite.
Nessa noite três fadas andavam a passear pelos jardins: passando por baixo da latada viram a velha a baloiçar. Àquele espectáculo inesperado, as três fadas desataram a rir, a rir, a rir, que no fim até lhes doíam os flancos. Mas depois de se fartarem de rir a bom rir, uma delas disse:
-Agora que nos rimos tanto à custa dela, temos de lhe dar uma recompensa.
E uma das fadas disse:
-Claro que damos. Ordeno que a te tornes a mais bela jovem que se possa ver com os dois olhos.
-Ordeno, ordeno – disse outra fada – que tenhas um belíssimo marido que te ame e adore.
-Ordeno, ordeno – disse a terceira – que sejas grande dama durante toda a vida.
E as três fadas foram-se embora.
Assim que nasceu o dia, o rei acordou e lembrou-se de tudo. Para se certificar de que não tinha sido tudo um mau sonho, abriu as janelas para ver aquele monstro que tinha atirado lá para baixo na véspera. E eis que vê, pousada na latada, uma belíssima jovem. Levou as mãos aos cabelos.
-Pobre de mim, o que fiz eu! – Não sabia como podia puxá-la para cima; por fim tirou um lençol da cama, lançou-lhe uma ponta para ela se agarrar, e puxou-a para o quarto. Quando ela chegou ao pé dele. Feliz e ao mesmo tempo cheio de remorsos, começou a pedir-lhe perdão. A noiva perdoou-lhe e assim ficaram bem um com outro. Passado um pouco ouviu-se bater à porta.
É a avó – disse o rei. – Entre, entre!
A velha entrou e viu na cama, em vez da irmã de noventa e quatro anos, aquela belíssima jovem. E esta belíssima jovem, como se nada tivesse acontecido, disse-lhe:
-Clementina, traz-me café.
A velha pôs uma mão na boca para sufocar o grito de espanto; fingiu que não era nada e levou-lhe o café. Mas assim que o rei saiu para os seus afazeres, correu para a noiva e perguntou-lhe:
- Mas como, como é que te tornaste assim tão jovem?
E a noiva:
-Cala-te, cala-te, por favor! Se soubesses o que eu fiz! Mandei aplainar-me.
-Foi o carpinteiro.
A velha correu ao carpinteiro.
-Carpinteiro, dais- me uma aplainadela?
E o carpinteiro:
-Oh, raios, é verdade que você está seca como uma tábua, mas se a aplaino vai logo para o outro mundo.
-Não vos raleis com isso, já disse. Dou-vos um talher de ouro.
Quando ouviu dizer «talher de ouro» o carpinteiro mudou de ideias. Guardou o talher e disse:
-Deite-se aqui na bancada que lhe dou as aplainadelas que quiser.

A Tartaruga Tagarela

Era uma vez uma tartaruga que vivia num lago com dois patos, muito seus amigos. Ela adorava a companhia deles e conversava até cansar. A tartaruga gostava muito de falar. Tinha sempre algo a dizer e gostava de se ouvir dizendo qualquer coisa.
Passaram muitos anos nessa feliz convivência, mas uma longa seca acabou por esvaziar o lago. Os dois patos viram que não podiam continuar morando ali e resolveram voar para outra região mais úmida. E foram dizer adeus à tartaruga.
- Oh, não, não me deixem! Suplicou a tartaruga. - Levem-me com vocês, senão eu morro!
- Mas você não sabe voar! - disseram os patos. - Como é que vamos levá-la?
- Levem-me com vocês! Eu quero ir com vocês! - gritava a tartaruga.
Os patos ficaram com tanta pena que, por fim, tiveram uma ideia.